domingo, 20 de junho de 2010

Dois meses aqui. Foi nesse dia que eu me mudei para o meu próprio quarto: uma suíte grande com uma banheira... nenhum móvel e um expectativa enorme sobre o que viria a ser essa fase.
No mesmo dia, trabalhei numa festa para americanos. Meu melhor trabalho até agora. O mais bem remunerado. Com o dinheiro da festa deu pra comprar roupa de cama e outras coisas que eu precisava para o quarto.
Moro numa casa com nove homens. E é interessante ouvir suas histórias... A vivência daquelas pessoas me dizem muito. Eles são mais sentimentais que a maioria e ao mesmo tempo mais frios também. Choram assistindo aos programas de TV do Brasil... Mas eles escolheram a solidão. Mandam para suas famílias quase todo o dinheiro que fazem neste país. Moram em quartos minúsculos... sem conforto nenhum. Vivem com fotos no bolso. Alguns tatuaram no corpo o nome dos filhos, como que pra não esquecer. Eles são guerreiros. Estão numa guerra silenciosa, contra eles mesmos, contra um sistema que oprime, que afasta famílias inteiras. Eu me pergunto se vale a pena. Na minha cabeça, eu vivo uma aventura temporária e eles uma escravidão que parece ser eterna. Dois deles têm filhos na faculdade. E choram quando falam da expectativa disso. Investem tudo o que tem e o que são nessa luta. E eu penso se isso é justo com eles mesmos. Será que cada homem e mulher não devia escolher suas própria batalhas? Eles não têm quase nada, os filhos têm tudo. Penso também nos filhos deles, na saudade, na cobranças que devem se impor...
Agora ,eu também moro sozinha, mas não fiquei com medo da solidão. Aliás, depois de passar o dia na escola, até que chegar em casa e ficar comigo mesma não é assim tão ruim. No segundo dia na casa nova, meu quarto já tinha uma geladeira, um microondas, uma mesa de computador, uns criados mudos.... Tudo coisas que os meninos tinham e me emprestaram. Acho que alguns veem em mim seus próprios filhos ou a luta deles mesmos.
Dois meses já se foram... Eu tenho o curso, um trabalho tranqüilo... capaz de me manter com conforto. Mas ainda não consegui juntar nenhum centavo. E isso tem me preocupado um pouco. São só dois meses e , por isso, até que não está ruim... eu sei disso. Mas mesmo assim. Fico ansiosa. Sei que tudo está acontecendo muito rápido. Inclusive o tempo está passando rápido. É que eu sonhei muitas coisas e agora, diante da aproximação dos prazos percebo que vou precisar de mais tempo. Já assisto TV, converso com americanos, inclusive no telefone. Leio mais também, mas meu inglês ainda não está como eu gostaria. E isso me preocupa. Vou precisar investir mais tempo e dinheiro para alcançar o nível que eu desejo neste idioma. Por isso, volto ao Brasil em setembro e depois, viajo de novo.